O governo da Venezuela classificou como “grave ato de pirataria internacional” a apreensão de um segundo petroleiro por forças dos Estados Unidos, ocorrida na madrugada do sábado (20). Em comunicado oficial, Caracas afirmou que tomará “todas as medidas cabíveis”, incluindo apresentar uma queixa formal contra os EUA no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e junto a outras organizações multilaterais.
“A República Bolivariana da Venezuela denuncia e rejeita categoricamente o roubo e sequestro de um novo navio privado que transportava petróleo venezuelano, bem como o desaparecimento forçado de sua tripulação, cometidos por militares dos Estados Unidos da América em águas internacionais”, declarou o governo venezuelano, finalizando com a promessa: “Esses atos não ficarão impunes”.
A secretária da Segurança Interna dos EUA, Kristi Noem, divulgou um vídeo da operação e justificou a ação na rede social X: “Os Estados Unidos continuarão a combater a movimentação ilícita de petróleo sob sanções, usada para financiar o narcoterrorismo na região”.
Esta é a segunda apreensão em dez dias. A primeira ocorreu em 10 de dezembro. Uma semana depois, o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou um bloqueio total a petroleiros da Venezuela, declarando que o país estava “completamente cercado”. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, respondeu classificando o ato como uma “interferência brutal” de Washington.
Contexto Geopolítico e Econômico
A Venezuela detém as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo, com aproximadamente 303 bilhões de barris, ou 17% do volume global conhecido, segundo a Agência de Informação de Energia dos EUA (EIA). Este volume supera o de países como Arábia Saudita e Irã. No entanto, grande parte do petróleo venezuelano é do tipo extra-pesado, exigindo tecnologia avançada e grandes investimentos para sua extração — um potencial subaproveitado devido a infraestrutura precária e sanções internacionais.
Há um claro interesse estratégico dos EUA. De acordo com a EIA, o petróleo pesado da Venezuela é “bem adequado às refinarias norte-americanas, especialmente às localizadas ao longo da Costa do Golfo”. As ações da administração Trump atingem, assim, um duplo objetivo: pressionar a principal fonte de receita do governo Maduro e, simultaneamente, buscar favorecer a indústria de refino dos Estados Unidos.
Os efeitos das sanções e do bloqueio começam a surgir. A Bloomberg News reportou que Caracas enfrenta falta de capacidade para armazenar petróleo, com Washington impedindo a atracação e saída de embarcações dos portos venezuelanos.
Repercussões Internacionais e Mercado
A Rússia, que já declarou apoio a Maduro, voltou a se pronunciar após a primeira apreensão, alertando que as “tensões na Venezuela podem ter consequências imprevisíveis para o Ocidente”.
No campo comercial, a China é a maior compradora do petróleo bruto venezuelano, que representa cerca de 4% de suas importações. Analistas consultados pela Reuters projetam que os embarques para dezembro devem alcançar uma média superior a 600 mil barris por dia.
Embora o mercado global de petróleo esteja atualmente bem abastecido, com milhões de barris aguardando descarregamento na costa chinesa, analistas alertam que a perda sustentada de quase um milhão de barris diários na oferta global pode exercer pressão de alta sobre os preços do petróleo a médio prazo.
Cenário de Conflito Ampliado
As apreensões de petroleiros ocorrem no contexto de uma operação militar mais ampla ordenada por Trump. O presidente norte-americano autorizou o Departamento de Defesa a realizar uma série de ataques contra embarcações no Caribe e no Pacífico, alegando que estas estariam envolvidas no contrabando de fentanil e outras drogas ilegais para os EUA. Desde o início de setembro, pelo menos 104 pessoas foram mortas em 28 ataques conhecidos.
A chefe de gabinete da Casa Branca, Susie Wiles, em entrevista à Vanity Fair, resumiu a postura da administração: Trump “quer continuar explodindo barcos até Maduro gritar ‘tio'”.
Fonte: G1 Mundo