Em um pronunciamento noturno na Casa Branca na quarta-feira (17 de dezembro de 2025), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez uma série de elogios à sua própria gestão e atribuiu a culpa pelos problemas do país ao seu antecessor, Joe Biden. O discurso, transmitido de uma sala com decoração natalina, durou pouco menos de 20 minutos e teve um tom marcadamente defensivo, oferecendo poucas propostas políticas concretas.

“Há onze meses, herdei uma bagunça e estou tendo que consertar”, afirmou Trump, que culpou a administração anterior por uma suposta invasão de migrantes, pela alta da criminalidade violenta, por questões relacionadas a direitos transgêneros e por acordos comerciais que descreveu como parte de um “sistema corrupto”.

O presidente criticou Biden por permitir que os EUA fossem “invadidos por um exército de 25 milhões de pessoas”, uma cifra repetida por republicanos desde a campanha de 2024 e amplamente desmentida por verificadores de fatos. Dados da imprensa americana, como os citados pela NBC, estimam que cerca de 7,4 milhões de imigrantes indocumentados cruzaram ilegalmente a fronteira durante o governo Biden, número que subiria para pouco mais de 10 milhões se incluídos os que entraram por postos legais.

Promessas e poucas soluções

Trump elogiou o trabalho de seu governo em 2025, citando a diminuição de travessias ilegais na fronteira e a redução de preços de alguns produtos. Ele prometeu que o país estaria mais forte em 2026, destacando esforços de segurança fronteiriça e deportações em massa.

Entre as poucas iniciativas anunciadas, Trump disse que seu governo enviaria um “dividendo aos guerreiros” de US$ 1.776 para 1,45 milhão de militares na semana seguinte. Também apoiou uma proposta republicana para enviar dinheiro diretamente à população para custear planos de saúde, em vez de usar subsídios do Affordable Care Act (Obamacare), afirmando que “os únicos perdedores serão as seguradoras”. A proposta, no entanto, carece de apoio suficiente no Congresso.

Surpreendentemente, temas de política externa, que dominaram parte de seu segundo mandato, foram pouco mencionados. Houve uma breve referência à guerra em Gaza, mas nenhuma menção aos conflitos na Ucrânia ou às tensões com a Venezuela.

A promessa de um ‘boom’ e a realidade dos números

Trump admitiu que os preços continuam altos, mas argumentou que o país está preparado para um “boom econômico” em 2026, creditando os avanços à sua política tarifária. “Estou reduzindo esses preços altos, e reduzindo-os muito rapidamente”, disse. Ele afirmou ter atraído US$ 18 trilhões em investimentos e culpou os democratas por um “desastre inflacionário, o pior da história do nosso país”.

Contudo, os dados de inflação não corroboram essa narrativa de melhoria rápida. O Índice de Preços ao Consumidor ficou em 3% em setembro de 2025, mesma taxa de janeiro, após uma ligeira alta em relação aos 2,9% de dezembro de 2024, último mês completo de Biden. A inflação anual, que havia caído para 2,3% em abril (mínima em quatro anos), vem subindo gradativamente desde a imposição das tarifas por Trump.

Dados econômicos recentes mostram uma leve recuperação no crescimento após uma contração no início do ano, mas também apontam uma desaceleração na geração de empregos, um desemprego no patamar mais alto em quatro anos e preços ao consumidor persistentemente elevados. Uma pesquisa da AP-Norc deste mês indicou que a maioria dos americanos percebe preços anormalmente altos em alimentos, energia e presentes.

Contexto eleitoral e reações

O discurso ocorre em um ano pré-eleitoral, com as eleições de meio de mandato marcadas para novembro de 2026, onde os republicanos enfrentam dificuldades para manter o controle do Congresso. Trump prometeu melhoras citando políticas tributárias, tarifas e planos para substituir o presidente do Federal Reserve.

No entanto, sua política tarifária tem gerado incertezas e pressionado preços. Uma pesquisa Reuters/Ipsos mostrou que apenas 33% dos americanos aprovam sua gestão da economia.

Após o pronunciamento, democratas criticaram a falta de soluções. O senador Mark Warner (Virgínia) classificou o discurso como “uma triste tentativa de distração”. O governador da Califórnia, Gavin Newsom, potencial candidato presidencial democrata em 2028, ironizou o egocentrismo de Trump em uma publicação nas redes sociais.

Fonte: G1