O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli marcou para a próxima terça-feira, 30 de dezembro, uma acareação entre o controlador do Banco Master, Daniel Vorcaro, o ex-presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, e o diretor de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino. A informação foi confirmada pela assessoria do STF.
Toffoli é o relator no STF do processo que envolve o Banco Master, que teve sua liquidação extrajudicial decretada pelo Banco Central em 18 de novembro. No mesmo dia, a Polícia Federal deflagrou uma operação que investiga uma suspeita de fraude bilionária na instituição, que resultou na prisão temporária de Vorcaro e no afastamento de Costa do BRB. Vorcaro obteve um habeas corpus do Tribunal Regional Federal da 1ª Região em 28 de novembro.
Ao justificar a liquidação, o BC apontou “graves violações” às normas prudenciais e problemas de liquidez do banco.
Controvérsia e investigações
A decisão do BC gerou uma série de questionamentos em Brasília. O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Jonathan de Jesus, solicitou esclarecimentos detalhados ao Banco Central sobre os fundamentos da liquidação.
O caso ganhou novos contornos com a revelação de que o ministro do STF Alexandre de Moraes teria se reunido com o presidente do BC, Gabriel Galípolo, em pelo menos quatro ocasiões. A esposa de Moraes, Viviane Barci de Moraes, possui um contrato de prestação de serviços advocatícios com o Banco Master. Tanto o BC quanto Moraes afirmaram, em notas separadas, que os encontros trataram exclusivamente dos efeitos da aplicação da Lei Magnitsky sobre o magistrado, negando qualquer pressão relacionada à possível aquisição do BRB pelo Master.
O modelo de risco do Banco Master
Fundado em 1974, o Banco Master passou por diversas mudanças de controle. A partir de 2019, sob o comando de Daniel Vorcaro, adotou uma estratégia de crescimento acelerado, captando recursos a custos elevados e direcionando-os para investimentos de alto risco. Essa combinação levantou alertas no mercado sobre a sustentabilidade financeira da instituição.
Um dos principais sinais de alerta foi a emissão de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com remunerações de até 140% do CDI, nível anormalmente alto para o mercado. Para especialistas, essa prática indicava dificuldade em captar recursos no mercado tradicional, levando o banco a depender massivamente de investidores pessoa física.
Investigações da Polícia Federal apontam que parte dos recursos captados teria sido usada para cobrir déficits operacionais e honrar compromissos antigos, em um modelo de esquema Ponzi que depende da entrada constante de novos recursos para se sustentar.
Tentativa de venda e irregularidades
Em busca de uma saída, o Banco Master negociou em 2025 a venda de 58% de seu capital ao BRB, em uma operação estimada em R$ 2 bilhões. A transação, porém, foi questionada por órgãos de controle devido à falta de transparência e aos potenciais riscos para o banco público.
As investigações da PF, iniciadas antes da tentativa de venda, identificaram indícios de que o Master teria criado carteiras de crédito artificiais e registrado ativos de baixa qualidade ou inexistentes como sólidos, mascarando sua real situação financeira. As apurações também focam em operações suspeitas envolvendo a venda de créditos da empresa Tirreno ao BRB por R$ 12,2 bilhões, sem a documentação adequada, durante o período das negociações de aquisição.
Consequências da liquidação
Com a liquidação extrajudicial decretada, as atividades do Banco Master foram imediatamente interrompidas, sua diretoria foi afastada e o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) foi acionado. O FGC estima pagar cerca de R$ 41 bilhões aos credores, respeitando o limite de cobertura de R$ 250 mil por CPF ou CNPJ. A Justiça também determinou o bloqueio de bens dos controladores e ex-executivos do banco, enquanto as investigações por responsabilidades civil e criminal seguem em curso.
O grupo Master representava 0,57% do ativo total e 0,55% das captações totais do sistema financeiro nacional.
Fonte: G1