O presidente da quarta maior rede de supermercados da França, Dominique Schelcher, anunciou que boicotará produtos sul-americanos se o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul entrar em vigor. A declaração ocorre em meio ao impasse político sobre o tratado, que a Comissão Europeia pretende assinar ainda esta semana.
“Não compraremos esses produtos se eles chegarem à França”, afirmou Schelcher à rede RMC/BFMTV. “Não vamos comprar produtos da América do Sul se houver equivalentes franceses no mercado”. O executivo comparou o Mercosul à gigante asiática Shein, classificando-o como um exemplo de “concorrência desleal”.
Schelcher argumenta que, enquanto os agricultores europeus enfrentam normas rígidas e custos elevados, a entrada de produtos com padrões menos exigentes criaria uma desigualdade. “É preciso se proteger”, defendeu.
O anúncio coincide com votações decisivas no Parlamento Europeu, que aprovou medidas de salvaguarda para limitar o impacto do acordo nos agricultores do bloco. A decisão visa facilitar a aprovação final pelos líderes dos 27 países da UE, apesar da oposição da França e da Itália.
O tratado, negociado há 25 anos, facilitaria as exportações europeias de automóveis, máquinas e vinhos para o Mercosul. Em contrapartida, ampliaria o acesso de carne, açúcar, arroz, mel e soja sul-americanos ao mercado europeu, o que gera preocupação nos setores agrícolas locais.
“Concordamos com tratados e trocas internacionais, mas não podemos enfraquecer nossos produtores e nossa economia”, afirmou Schelcher, incentivando os consumidores a priorizarem produtos franceses, especialmente nas compras de Natal.
Enquanto isso, a França solicitou formalmente o adiamento da assinatura do pacto, prevista para ocorrer durante a Cúpula do Mercosul em Foz do Iguaçu. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, conta com o apoio da Alemanha para concluir o acordo, mas a posição da Itália, que oscila, é considerada crucial.
No cenário político francês, a oposição ao acordo é ampla. O Senado aprovou uma resolução pedindo ao governo que busque a intervenção da Corte de Justiça da União Europeia para barrar o tratado, alegando possíveis incompatibilidades com as leis europeias. A medida recebeu apoio transversal, desde a esquerda radical até a extrema direita.
O ministro do Comércio Exterior francês, Nicolas Forissier, afirmou que o acordo “não está à altura”, mas considerou desnecessária uma ação judicial imediata, priorizando resultados concretos no curto prazo.