O ano de 2025 começou com o preço do café em níveis recordes, registrando a maior inflação acumulada em 12 meses desde a introdução do Real. Para 2026, a tendência é de uma leve queda, mas os consumidores não devem esperar uma bebida barata, devido à lenta recuperação dos cafezais e aos estoques globais ainda baixos.

Segundo Renato Garcia Ribeiro, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), os últimos anos de colheitas ruins, marcadas por calor e seca, impediram uma recuperação plena dos cafezais. “Grande parte dos talhões ainda está se recuperando”, afirma. Essa oferta limitada já se reflete nos preços: após meses de alta, o café registrou em agosto o primeiro declínio (de 0,23%) desde dezembro de 2023.

As perspectivas climáticas para o fim de 2025 e início de 2026 são mais favoráveis, com previsão de chuvas durante a fase de florada, condição ideal para a produção. Cesar Castro Alves, gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, aponta que, se o volume de chuvas for adequado no primeiro trimestre, o desenvolvimento dos grãos de café arábica – a variedade mais produzida no Brasil – pode ser bom, ajudando a recompor os estoques globais. No entanto, essa recomposição só deve ocorrer a partir da safra 2026/2027.

Enquanto isso, a oferta segue apertada. A colheita começa em abril e o café só chega ao mercado a partir de setembro. Além da demanda interna, as exportações para os Estados Unidos aumentaram após o fim da tarifa de 50% imposta durante o governo Trump, pressionando ainda mais os estoques. “Não tem um alívio tão grande de estoques assim. O consumo vem crescendo, o mundo precisa de mais café, então a gente não espera preços muito menores”, afirma Alves.

Diante das adversidades climáticas, muitos produtores têm investido mais no café robusta, variedade mais resistente ao calor e à seca. Embora uma lavoura leve cerca de dois anos para começar a produzir, o aumento do uso de robusta nos blends (misturas de grãos) já ajuda a aliviar um pouco a pressão sobre os preços para o consumidor final.

Em resumo, o cenário para 2026 aponta para uma pequena queda nos preços, impulsionada por melhores condições climáticas, mas a bebida deve permanecer com valores elevados devido à demanda aquecida e à oferta que ainda não se recuperou totalmente.

Fonte: G1 – Preço do café pode continuar caindo em 2026, mas não vai ficar barato