O Bloqueio e o Cerco ao Petróleo Venezuelano

Os Estados Unidos anunciaram um cerco total à Venezuela, incluindo um bloqueio a navios petroleiros. Esta medida coloca o petróleo, mais uma vez, no epicentro da escalada de tensões entre os dois países. A Venezuela detém cerca de 17% das reservas conhecidas de petróleo do mundo, um volume estimado em mais de 300 mil milhões de barris, quase quatro vezes superior às reservas dos EUA.

A Dimensão do Mercado Petrolífero Venezuelano

A Venezuela possui a maior reserva comprovada de petróleo do planeta, com cerca de 303 mil milhões de barris, à frente da Arábia Saudita e do Irão. Contudo, grande parte deste óleo é extrapesado, exigindo tecnologia avançada e investimentos maciços para a sua extração. A produção, que atingiu um pico de 3,7 milhões de barris por dia em 1970, desabou para cerca de 1 milhão de barris diários atualmente, menos de 1% da produção global. Esta queda deve-se a infraestruturas precárias e a sanções internacionais que restringem operações e acesso a capital.

Dependência Histórica e Consequências Económicas

O petróleo moldou a economia venezuelana ao longo do século XX. Após a nacionalização da indústria em 1976 e a criação da estatal PDVSA, o sector tornou-se um monopólio estatal. Durante décadas, mais de 90% das exportações do país provieram do petróleo, canalizando receitas para programas sociais em detrimento de outros investimentos. A queda brusca da produção e das receitas petrolíferas, agravada por sanções, contribuiu para uma crise económica profunda e uma hiperinflação histórica.

Sanções, PDVSA e a Relação com os EUA

A relação dos Estados Unidos com o petróleo venezuelano remonta aos anos 1920. Hoje, as sanções reduziram drasticamente a presença americana, restando apenas a Chevron a operar sob uma autorização especial. A PDVSA, outrora a garantia da entrada de dólares, viu o seu orçamento e capacidade de investimento severamente afetados, acelerando o declínio da produção. Um ponto de viragem foi a greve de 2002 na empresa, que paralisou operações e resultou na demissão de milhares.

Petróleo como Pilar Geopolítico

Apesar das dificuldades, o petróleo mantém-se como o pilar económico da Venezuela. Em 2024, a PDVSA faturou cerca de 17,5 mil milhões de dólares com exportações. O petróleo venezuelano é estrategicamente relevante para os EUA devido à sua compatibilidade com as refinarias americanas. Analistas sugerem que o interesse de Washington vai além do combate ao narcotráfico, incluindo objetivos económicos como influenciar os preços internos dos combustíveis. Após as sanções de 2019, a Venezuela redirecionou as suas exportações para a China, intensificando a disputa geopolítica na região.

Impacto na Economia e Vulnerabilidade Estrutural

As exportações de petróleo continuam a ser fundamentais, respondendo por cerca de 58% das receitas da PDVSA em 2024. No primeiro semestre de 2025, a economia venezuelana cresceu 7,71%, impulsionada sobretudo pelo sector dos hidrocarbonetos, que avançou quase 15%. Contudo, esta dependência gera uma vulnerabilidade extrema. Estudos estimam que as sanções lideradas pelos EUA causaram perdas de cerca de 226 mil milhões de dólares em receitas petrolíferas para a Venezuela entre 2017 e 2024 — um valor superior ao PIB atual do país. Apesar da imensa riqueza natural, a Venezuela permanece uma das menores economias da América Latina, com o seu destino intimamente ligado ao petróleo e às tensões geopolíticas globais.