A administração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, intensificou a pressão sobre a Venezuela, não descartando uma intervenção militar e reforçando o cerco naval no Caribe e no Pacífico. Oficialmente, Washington justifica as ações como combate ao narcotráfico e a grupos criminosos ligados ao país, além de classificar o governo de Nicolás Maduro como corrupto e uma ameaça à segurança regional.
Em resposta, Maduro acusa os EUA de tentativa de golpe, “pirataria naval” e de usar o pretexto das drogas para forçar sua saída do poder. Para analistas, porém, os motivos da ofensiva são mais profundos, envolvendo interesses econômicos e geopolíticos estratégicos.
O interesse pelo petróleo venezuelano
A Venezuela detém as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo, cerca de 303 bilhões de barris (17% do total global), segundo a Agência de Informação de Energia dos EUA (EIA). Apesar do potencial, a extração é complexa devido ao petróleo extra-pesado e à infraestrutura deficiente, agravada por sanções internacionais.
Especialistas apontam que o petróleo venezuelano, especialmente o pesado, é ideal para as refinarias da Costa do Golfo dos EUA. O The New York Times reportou que Washington mantém negociações secretas com Caracas focadas no recurso. Para Marcos Sorrilha, professor da Unesp, Trump busca o petróleo venezuelano para reduzir os preços internos de combustível, aliviando o custo de vida nos EUA, enquanto simultaneamente pressiona a principal fonte de receita do governo Maduro.
A disputa geopolítica com a China
Após as sanções de 2019, a China tornou-se o principal parceiro da Venezuela, recebendo 68% das exportações de petróleo bruto em 2023, segundo a EIA. O país asiático já concedeu cerca de US$ 50 bilhões em empréstimos à Venezuela na última década, usando embarques de petróleo como garantia.
Para Carolina Moehlecke, da FGV, essa relação é crítica. “A Venezuela mantém uma relação cooperativa com a China em áreas muito críticas, como petróleo e mineração”, destaca. O economista André Galhardo vê na ofensiva de Trump uma tentativa clara de conter a crescente influência chinesa na América Latina, realinhando laços na região.
Expansão comercial e a Doutrina Monroe
Além dos recursos, há interesse em abrir o mercado venezuelano para empresas norte-americanas, conforme defendido pela líder oposicionista María Corina Machado em conversas com Donald Trump Jr. A estratégia mais ampla foi formalizada num documento da Casa Branca que resgata explicitamente a Doutrina Monroe.
Criada em 1823, a doutrina declarava o hemisfério ocidental como área de interesse estratégico dos EUA, opondo-se a intervenções europeias. A nova estratégia a reinterpreta de forma ofensiva, estabelecendo a América Latina como prioridade para segurança e prosperidade dos EUA, com o objetivo explícito de evitar que rivais como a China acessem recursos estratégicos na região.
“Há um paralelo com a política da ‘Porta Aberta’ do século XIX, que buscava a expansão das empresas americanas na região”, avalia Marcos Sorrilha, destacando que esse objetivo era, quando necessário, sustentado pelo uso da força.
Fonte: G1