O presidente francês, Emmanuel Macron, declarou nesta quinta-feira (18) que a França não apoiará o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul sem novas salvaguardas para os seus agricultores. A afirmação foi feita em Bruxelas, antes de uma reunião de cúpula da UE.

“Quero dizer aos nossos agricultores, que manifestam claramente a posição francesa desde o início: consideramos que as contas não fecham e que este acordo não pode ser assinado”, afirmou Macron à imprensa. O presidente francês acrescentou que o país se oporá a qualquer “tentativa de forçar” a adoção do pacto com o bloco sul-americano.

O acordo comercial, que visa reduzir ou eliminar tarifas entre os dois blocos, está previsto para ser assinado no sábado (20), em Foz do Iguaçu, durante a cúpula de chefes de Estado do Mercosul, caso seja aprovado pelo Conselho Europeu.

Agricultores franceses veem acordo como ameaça

A maioria dos agricultores franceses considera o acordo com o Mercosul um risco, argumentando que os produtores da América Latina seguem regras ambientais menos rigorosas, o que resultaria numa concorrência desleal com produtos mais baratos.

Apesar de a França ter obtido da Comissão Europeia garantias de salvaguardas para setores sensíveis, os produtores consideram-nas insuficientes. Recentemente, o Parlamento Europeu aprovou medidas de proteção e criou um mecanismo para monitorar o impacto do acordo em produtos como carne bovina, aves e açúcar, permitindo a aplicação de tarifas em caso de desestabilização do mercado.

Itália como fiel da balança

O processo avança agora para o Conselho Europeu, que exige uma maioria qualificada para autorizar a ratificação. A França e a Polónia opõem-se abertamente ao tratado, enquanto a Bélgica e a Áustria demonstram desconforto. A posição da Itália, que tem apresentado sinais contraditórios, tornou-se decisiva.

Se a Itália se alinhar com a posição francesa, estes países, juntamente com a Polónia e a Hungria, poderiam formar uma maioria qualificada suficiente para bloquear o pacto, ao concentrarem mais de 35% da população da UE.

O que está em jogo além do agronegócio

Embora o debate público se centre na resistência do setor agrícola europeu, o acordo UE-Mercosul é mais abrangente. O tratado cobre temas como indústria, serviços, investimentos, propriedade intelectual e insumos produtivos.

Países como Alemanha, Espanha e Portugal são fortes defensores da ratificação, argumentando que o acordo traz ganhos económicos significativos e contribui para a diversificação das relações comerciais da UE. Diversos setores económicos europeus, incluindo manufatura, alta tecnologia e serviços, têm-se mostrado favoráveis.

Se o acordo for aprovado pelo Conselho, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, deve viajar ao Brasil para a ratificação formal, concluindo um processo de negociação que durou mais de duas décadas.