Existe um grupo que desafia o ditado popular de que “dinheiro não cai do céu”: os caçadores de meteoritos. Este mercado, que combina paixão científica com oportunidade comercial, tem crescido globalmente, atraindo desde aventureiros até colecionadores dispostos a pagar fortunas por um pedaço do espaço.
A trajetória de Roberto Vargas, um ex-terapeuta norte-americano, ilustra esta mudança. Em 2021, ele deixou um emprego estável para se dedicar à caça de meteoritos. “Na primeira viagem à Costa Rica, voltei numa sexta-feira e, na segunda, já tinha vendido meteoritos e ganhado mais de US$ 40.000. Foi uma experiência que mudou a minha vida”, contou ao The Documentary Podcast da BBC.
Mas o mercado não existiria sem figuras como Darryl Pitt, um fotógrafo musical que se tornou comerciante. Pitt organizou o primeiro leilão de meteoritos nos anos 90, abrindo caminho para a valorização destes objetos. “Percebi que o mais importante era apresentá-los ao mundo dos leilões”, explicou.
O que é um Meteorito e Como se Avalia o seu Valor?
Segundo a professora Sarah Russell, do Museu de História Natural de Londres, “um meteorito é uma rocha que chegou à superfície da Terra”. Enquanto cruza a atmosfera, é chamado de meteoro. Estes fragmentos podem ter origem em asteroides, na Lua, em Marte ou em outras origens desconhecidas.
O valor é determinado por vários fatores: tamanho, integridade, raridade da composição, classificação e procedência. Enquanto gramas de meteoritos comuns podem custar menos de um dólar, peças raras atingem valores astronómicos. Em julho de 2025, um meteorito marciano de 24 kg foi leiloado por US$ 4,3 milhões (cerca de R$ 21,5 milhões) pela Sotheby’s em Nova Iorque.
Como Identificar um Meteorito?
A professora Russell explica que a passagem pela atmosfera derrete a superfície externa, criando uma fina “crosta de fusão” única. Além disso, os meteoritos tendem a ser mais densos que rochas terrestres. Existem três tipos principais: rochosos, metálicos (ferro) ou uma mistura de ambos. A confirmação definitiva, no entanto, requer análise química.
Controvérsias e Regulação do Mercado
A venda do meteorito marciano do Níger gerou um debate internacional sobre a legalidade e ética deste comércio. O professor Idi Umuru Amadou, da Universidade Abdu Mouni no Níger, questionou: “Quem concedeu a autorização [para a sua saída]?” O país não tem legislação específica para objetos extraterrestres, mas possui normas para bens patrimoniais.
A regulação varia drasticamente. “Na Austrália não é permitida a exportação de meteoritos, enquanto no Reino Unido não existem leis específicas”, afirmou Russell. Na Argentina, apesar de ter legislação, o vasto património do Campo del Cielo tem sido alvo de contrabando.
A Perspectiva Científica e as ‘Meteoríticas’
Nem todos os caçadores têm motivação comercial. No Brasil, o grupo Meteoríticas, formado por cientistas, viaja para locais de impacto para garantir que os meteoritos cheguem a instituições de pesquisa. “Deixamos o que estamos fazendo e partimos em busca desse novo meteorito. Porque ser as primeiras faz diferença”, disse a meteorologista Amanda Tosi.
Tosi não condena o comércio, mas defende a sua regulamentação: “Não queremos proibir a compra e a venda, porque quando há comércio, as pessoas se sentem estimuladas a procurá-los… Mas precisamos de um equilíbrio para proteger o meteorito como património cultural e científico”.
Sarah Russell reforça a importância científica: “Amostras realmente únicas podem abrir uma porta para uma parte do sistema solar que ainda não conseguimos explorar… Se não tivermos a oportunidade de obter essa rocha, não poderemos aprender tanto”.
Roberto Vargas, por fim, defende o seu papel: “Sim, temos motivação económica, mas também científica. Queremos que essas rochas estejam nas mãos de cientistas, e que sejam protegidas, cuidadas e estudadas”.