A Eletronuclear, empresa responsável pelas usinas nucleares brasileiras, enfrenta uma situação financeira crítica. Segundo o diretor-presidente interino, Alexandre Caporal, o caixa da estatal é suficiente para honrar compromissos por apenas dois a três meses. Em entrevista ao g1, Caporal afirmou: “Acho que a gente não passa muito mais que isso”.
A empresa não pretende solicitar aporte de recursos ao Tesouro Nacional, mas busca a suspensão temporária do pagamento de empréstimos junto a bancos públicos, que somam quase R$ 7 bilhões. Sem essa medida, Caporal alerta que a empresa vai “sangrar até morrer”.
O impasse de Angra 3 e a pressão da dívida
O principal fator da crise é a indefinição sobre o futuro da usina nuclear Angra 3, cujas obras estão paralisadas há cerca de uma década. A suspensão dos pagamentos da dívida, concedida por seis meses em 2024, daria fôlego financeiro até que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) defina o destino do projeto.
O serviço da dívida deve somar R$ 800 milhões em 2025. Somados aos gastos de manutenção, os custos com Angra 3 superam R$ 1 bilhão anuais. “Não tem sentido fazer a Eletronuclear sangrar até potencialmente ter um colapso”, declarou Caporal, defendendo a suspensão (“stand still”) da cobrança.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), um dos principais credores, resiste à interrupção dos pagamentos devido à indefinição sobre Angra 3. Caporal explica que, do ponto de vista regulatório, a usina paralisada “não existe”, o que complica a negociação.
Dificuldades operacionais e busca por eficiência
Além do rombo causado por Angra 3, a Eletronuclear enfrenta desequilíbrios nas usinas em operação, Angra 1 e 2. Historicamente, as despesas administrativas e operacionais da empresa estiveram acima do estipulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na composição das tarifas.
Entre 2015 e 2021, esse déficit era parcialmente coberto por aportes da União, totalizando cerca de R$ 5 bilhões. Após a privatização e o fim desses aportes, a vulnerabilidade da empresa aumentou. A estatal informa que vem implementando cortes de despesas, ajustes em pessoal e terceirizações para reduzir gradualmente o déficit, além de buscar um reequilíbrio tarifário junto à Aneel.
Possíveis saídas e cenário futuro
Caporal afirmou que a situação da Eletronuclear é “muito distinta” da crise dos Correios, pois não requer uma “injeção de recursos direta” do Tesouro no momento. No entanto, o Relatório de Riscos Fiscais da União de 2025, divulgado em novembro, não descarta a possibilidade de aportes futuros, citando a Eletronuclear entre as estatais com dificuldades de caixa.
Uma esperança de alívio imediato é o acesso a cerca de R$ 1 bilhão do Fundo de Descomissionamento, recurso destinado à futura desativação das usinas. Caporal espera receber o valor no primeiro trimestre de 2026 e informou que a empresa entrará com uma medida cautelar em janeiro para viabilizar a liberação, já que a Agência Nacional de Segurança Nuclear (ANSN) resiste ao pagamento.
Outro fator positivo, mas insuficiente, é o acordo homologado pelo STF entre a União e a Eletrobras, que prevê a emissão de R$ 2,4 bilhões em debêntures de forma faseada. Enquanto isso, a empresa aguarda uma definição do governo, seja sobre o futuro de Angra 3, seja sobre a suspensão da dívida, para evitar um colapso financeiro.
Fonte: g1.globo.com