A diplomacia brasileira encerrou 2025 com uma agenda internacional intensa, marcada por grandes eventos e negociações estratégicas, mas também pelo adiamento de uma meta importante: a assinatura do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. O ano foi palco de cúpulas de peso, como a dos Brics, no Rio de Janeiro, e da COP30, em Belém, além de complexas tratativas comerciais.

Em entrevista ao g1, o embaixador Maurício Lyrio, secretário de Clima e Meio Ambiente do Itamaraty e um dos principais negociadores do Brasil nos Brics e na COP30, analisou os avanços e desafios deste ano decisivo.

O Acordo Mercosul-União Europeia: espera que se prolonga

Um dos objetivos da presidência brasileira do Mercosul no segundo semestre de 2025 era entregar a liderança do bloco ao Paraguai com o histórico acordo com a UE já assinado. Após 26 anos de negociação, a conclusão foi novamente adiada para 2026, ficando a cargo do Paraguai conduzir as tratativas no próximo período.

O tratado, concluído em sua forma negociada em dezembro de 2024, promete ampliar o acesso a mercados, reduzir tarifas e fortalecer as relações entre a América do Sul e a Europa. A falta de consenso interno no bloco europeu, no entanto, impediu a assinatura.

“Esse acordo não é só comercial, é um acordo político, num momento de crescimento do protecionismo. Duas regiões dizendo que apostam na integração, na convergência e não no unilateralismo, enviam uma mensagem muito forte”, afirma Lyrio.

Para o diplomata, o principal desafio atual do Mercosul é interno: aprofundar o alinhamento entre seus membros. Medidas unilaterais de potências e divergências ideológicas regionais pressionam o bloco, mas Lyrio acredita que negociar acordos externos em conjunto é um elemento de fortalecimento interno, pois gera obrigações comuns.

A COP30 em Belém: avanços em um cenário complexo

O Brasil segue na presidência da Conferência do Clima da ONU (COP30) até o final de 2026. A edição de Belém reuniu mais de 42 mil participantes de 195 países e, apesar de não ter alcançado um acordo sobre combustíveis fósseis, Lyrio avalia que houve progressos relevantes diante do delicado contexto geopolítico.

“No início do ano, não sabíamos se o regime do clima sobreviveria. Ele não só sobreviveu como foi capaz de gerar novas obrigações”, destaca o embaixador. Ele ressalta que o trabalho do Brasil para construir uma posição comum do Brics sobre mudança climática foi fundamental e que os países do grupo foram aliados centrais nos momentos decisivos da conferência.

A Presidência do Brics: saúde, clima e inteligência artificial na pauta

Sob a liderança brasileira, o Brics fortaleceu a cooperação em desenvolvimento social e econômico. Um dos principais resultados foi o lançamento de uma parceria para erradicar doenças socialmente determinadas, comuns em países em desenvolvimento, colocando a saúde no centro da agenda do grupo.

Outro marco histórico foi a construção da primeira posição conjunta do Brics sobre inteligência artificial, abordando tanto seu potencial para o desenvolvimento quanto os riscos para o emprego e a desigualdade. “Conseguimos construir uma posição conjunta sobre a necessidade de uma governança global da inteligência artificial”, afirma Lyrio.

O Brasil no cenário global em 2026

Para Lyrio, o Brasil retomou um papel de liderança na defesa de soluções coletivas para desafios globais. Combate à fome, agenda climática e defesa do comércio internacional são eixos centrais dessa política externa, que deve se manter em 2026.

O foco continuará no desenvolvimento social, redução de desigualdades, acesso a financiamento para países em desenvolvimento e enfrentamento da crise climática, temas que guiarão a atuação internacional do Brasil enquanto o país mantiver a presidência da COP30.

Fonte: g1.globo.com