Colômbia: A economia que surpreendeu o mundo em 2025 e os desafios pela frente

A economia colombiana protagonizou uma das maiores surpresas positivas de 2025. Com um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,6% no terceiro trimestre – superando as projeções mais otimistas –, o país registrou sua maior expansão desde a pandemia e o melhor desempenho da América Latina, segundo a revista The Economist.

Os motores do crescimento

O consumo, tanto público quanto privado, foi o grande propulsor deste desempenho. “A economia vai crescer mais do que o esperado, mesmo pelos mais otimistas, devido ao aumento do consumo público, mas também do consumo privado”, afirmou José Antonio Ocampo, ex-ministro e professor da Universidade Columbia.

O mercado de trabalho também apresentou sinais robustos, com a taxa de desemprego atingindo o menor patamar histórico (8,2%). Embora a informalidade permaneça elevada, três quartos da expansão do emprego em 2025 foram em postos formais.

Setores como o agropecuário contribuíram positivamente, impulsionados, em parte, pela alta nos preços do café. A valorização do peso colombiano frente ao dólar, fruto de fatores externos como a desaceleração monetária nos EUA, trouxe um efeito ambivalente: pressionou as exportações, mas barateou as importações.

Nuvens no horizonte: os desafios estruturais

Por trás dos números positivos, economistas apontam alertas importantes. O principal deles é o elevado déficit fiscal, estimado em 6,2% do PIB para 2025 – um patamar considerado insustentável por especialistas.

“Quando se detalha um pouco o que está por trás desse crescimento da atividade, surgem sinais de alerta, porque um dos fatores que o impulsionam é um gasto público insustentável”, avalia Marc Hoffstetter, da Universidade dos Andes.

Outros pontos de preocupação são a retração do investimento estrangeiro e a queda da atividade nos setores de mineração e petróleo, este último afetado por impostos e pela volatilidade dos preços internacionais. A inflação, que dá sinais de resistência, completa o quadro de desafios.

O governo Petro e a economia

As previsões mais catastróficas sobre o impacto da eleição do primeiro presidente de esquerda do país, Gustavo Petro, não se materializaram. A economia manteve uma trajetória “moderadamente positiva”, segundo a consultoria Deloitte.

No entanto, analistas não atribuem ao governo o mérito pelo bom momento. Pelo contrário, destacam que as bases foram lançadas antes da pandemia e que a chegada de Petro “gerou temor no empresariado”, resultando em uma queda considerável do investimento nos últimos dois anos.

O presidente enfrentou dificuldades para aprovar reformas-chave, como a tributária – essencial para equilibrar as contas públicas –, e recorreu a mecanismos excepcionais para suspender a regra de controle de gastos.

O futuro: otimismo cauteloso

O próximo capítulo da economia colombiana será escrito após as eleições de maio de 2026. O grande desafio do próximo governo será realizar o ajuste fiscal necessário sem comprometer o crescimento e o emprego.

“O governo que sair eleito terá uma tarefa complexa, porque precisará fazer ajustes”, prevê Ocampo. Especialistas acreditam que os ajustes podem ser graduais, sem a necessidade de medidas drásticas no curto prazo.

Apesar dos desafios, a Colômbia demonstrou resiliência e o funcionamento das suas instituições. Se conseguir corrigir o déficit e manter a confiança dos mercados, o país poderá consolidar a trajetória de redução da informalidade e da desigualdade. A perspectiva, como resume Nicolás Barone, da Deloitte, é de um “otimismo cauteloso”.

Fonte: BBC News Brasil