A Venezuela enfrenta uma nova e severa pressão econômica. O anúncio de um bloqueio “total e completo” contra petroleiros sancionados que entram ou saem do país, feito pelo ex-presidente dos EUA Donald Trump, visa estrangular a principal fonte de receita do governo de Nicolás Maduro. No entanto, especialistas alertam que as consequências podem se estender à população e, em um movimento de retorno, prejudicar os próprios interesses dos Estados Unidos.

O petróleo é a pedra angular da economia venezuelana, responsável por quase 90% das divisas que financiam a importação de alimentos, medicamentos e bens essenciais. Portanto, qualquer interrupção significativa no seu escoamento tem um impacto direto e profundo na vida dos cidadãos.

O Alcance do Bloqueio e a Dependência Venezuelana

A Venezuela produz atualmente cerca de 1 milhão de barris de petróleo por dia, uma fração dos mais de 3 milhões produzidos em 1998. Este colapso deve-se a má gestão, corrupção e sanções internacionais. Embora o impacto no mercado global de petróleo seja limitado a curto prazo, para a Venezuela a situação é crítica.

Segundo rastreamentos independentes, dezenas de petroleiros sob sanções dos EUA operam em águas venezuelanas, formando parte vital da cadeia de exportação. O bloqueio forçaria o governo Maduro a vender seu petróleo com descontos ainda maiores em canais informais, reduzindo drasticamente a receita. Francisco Monaldi, diretor do Programa de Energia da América Latina na Universidade Rice, alerta que isso levaria a uma desvalorização da moeda local, aumento da inflação e uma provável queda significativa no PIB.

Riscos e Consequências Inesperadas

Analistas apontam que a estratégia de Trump carrega riscos consideráveis. Christopher Sabatini, do Chatham House, argumenta que, se o bloqueio não conseguir uma mudança rápida de regime, pode aprofundar a crise humanitária. A escassez de medicamentos e alimentos se agravaria, e a população, ao sofrer, poderia culpar tanto a oposição venezuelana quanto os Estados Unidos pela deterioração da situação.

O efeito mais previsível de um agravamento da pobreza é uma nova onda migratória. Quase sete milhões de venezuelanos já deixaram o país, e um bloqueio eficaz poderia acelerar esse êxodo. Mark Weisbrot, do Centro de Pesquisa Econômica e Política (CEPR), destaca o risco político para Trump: um aumento significativo da imigração venezuelana para os EUA poderia ter um custo eleitoral nas próximas eleições.

O Contexto Militar e as Acusações

A ordem de bloqueio surge em um contexto de crescente presença militar norte-americana no Caribe, incluindo o porta-aviões USS Gerald R. Ford. Trump justifica a campanha como um combate ao narcotráfico, acusando Maduro de liderar o “Cartel de los Soles”. No entanto, muitos veem a ação como um esforço claro para forçar uma mudança de governo em Caracas.

O governo venezuelano condenou a medida como uma “ameaça grotesca” para “roubar” a riqueza do país, enquanto analistas debatem se a pressão máxima trará o colapso do regime ou uma crise humanitária ainda mais profunda com repercussões regionais imprevisíveis.

Fonte: G1