A base aliada do governo Lula no Senado optou por não obstruir a tramitação do Projeto de Lei da Dosimetria na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Parlamentares do PT e de partidos da coalizão votaram contra a proposta, mas permitiram a continuidade dos trabalhos, o que resultou na aprovação do texto e no seu envio para o plenário da Casa.
Dois motivos estratégicos fundamentam esta decisão: assegurar o avanço da pauta econômica do governo, já aprovada pela Câmara, e reservar ao presidente Lula o protagonismo de vetar a proposta no início de 2026, ano eleitoral.
A possibilidade de um embate eleitoral entre Lula e Flávio Bolsonaro (PL-RJ) fortaleceu, entre os governistas, a tese de reacender o debate sobre economia e segurança. A avaliação é que o veto presidencial, aliado a um discurso em defesa da democracia, pode beneficiar o petista na disputa contra o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Nos bastidores, acredita-se que Lula pode sair fortalecido com a reedição da polarização que marcou as eleições de 2022. A estratégia do Planalto envolve acirrar o embate do presidente com o Congresso em pautas polêmicas que geram reação popular, como o PL da Dosimetria, especialmente após as recentes manifestações pelo país.
Uma das linhas de ação para reduzir a resistência de parte do eleitorado é projetar Lula como um candidato distante de acordos políticos com parlamentares, em especial com o Centrão. Vetos presidenciais, mesmo que posteriormente derrubados, servem para diferenciar a imagem de Lula da dos congressistas.