O acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul enfrenta um novo e decisivo obstáculo. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, declarou que seria “prematuro” assinar o tratado agora, alinhando-se assim à posição da França, que se opõe veementemente a uma adoção imediata. Esta convergência fortalece a pressão de Paris para adiar a decisão para 2026.

O presidente francês, Emmanuel Macron, já havia alertado que a França reagiria “com firmeza” a qualquer tentativa de impor o acordo. Segundo a porta-voz do governo francês, Maud Bregeon, Macron considera que não há “visibilidade suficiente” sobre três condições-chave exigidas por Paris: as medidas-espelho, a cláusula de salvaguarda e os controles.

A posição italiana era particularmente aguardada e é vista como crucial. “Se a Itália não estiver a bordo, acabou”, alertou Bernd Lange, presidente da Comissão de Comércio Internacional do Parlamento Europeu, em entrevista à Reuters.

Este impasse ocorre no momento em que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, planejava viajar ao Brasil para assinar o acordo, que necessita do aval de uma maioria qualificada dos Estados-membros da UE. Líderes europeus estão reunidos em Bruxelas para uma cúpula que discute o tema.

Do outro lado da negociação, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, expressou esperança de que as conversas avancem. “Espero que meu amigo Macron e a primeira-ministra Meloni assumam suas responsabilidades”, disse Lula, acrescentando que parte das preocupações francesas com os agricultores é “infundada”. O mandatário brasileiro sinalizou, no entanto, disposição para fazer concessões adicionais.

Divisão no bloco europeu e pressão do tempo

Enquanto França e Itália pedem cautela, outros países europeus pressionam pela conclusão. Alemanha e Espanha são favoráveis à assinatura ainda esta semana. Os defensores do acordo argumentam que ele impulsionaria exportações europeias e reduziria a dependência comercial da China.

O acordo, em negociação há 25 anos, criaria a maior zona de livre comércio do mundo. No entanto, a França teme o impacto sobre seus agricultores, historicamente hostis ao pacto, devido à possível importação de produtos agrícolas sul-americanos que não seguem as mesmas normas rígidas da UE.

O tratado pode ser bloqueado se quatro países da UE, representando 35% da população do bloco, se opuserem. Além de França e Itália, a Polônia já rejeita categoricamente o acordo, e a Hungria também parece contrária.

Do lado do Mercosul, a impaciência cresce. Um representante brasileiro advertiu que o acordo deve ser fechado “agora ou nunca”, uma vez que o bloco sul-americano busca entendimentos comerciais com outros parceiros, como Japão, Índia e Canadá.