A assinatura do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, que seria formalizada neste sábado (20), foi adiada para janeiro. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, informou aos líderes do bloco nesta quinta-feira (18) sobre o adiamento, segundo as agências de notícias AFP e Reuters.
O plano original da Comissão Europeia era selar o pacto ainda nesta semana, criando a maior zona de livre comércio do mundo. No entanto, a Itália alinhou-se à França para exigir um adiamento, buscando maior proteção para o seu setor agrícola. Fontes diplomáticas confirmaram que a conclusão foi remarcada para janeiro, o que levou agentes a recalibrar as expectativas sobre o futuro do tratado.
Os debates sobre o texto, negociado há 25 anos, intensificaram-se durante a reunião do Conselho Europeu em Bruxelas, que começou na quinta e seguiu até sexta-feira (19).
Oposição liderada pela França
O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que o país não apoiará o acordo sem a inclusão de novas salvaguardas para os agricultores franceses. “Quero dizer aos nossos agricultores que consideramos que as contas não fecham e que este acordo não pode ser assinado”, declarou Macron. A França é o principal foco de resistência ao tratado dentro do bloco europeu.
Agricultores franceses veem o acordo como uma ameaça, temendo a concorrência com produtos latino-americanos mais baratos e produzidos sob padrões ambientais distintos dos europeus.
Alemanha e Espanha mantêm apoio
Enquanto a França resiste, o chanceler alemão, Friedrich Merz, e o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, defenderam que o bloco avance no acordo firmado politicamente no ano passado com Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
Alemanha, Espanha e países nórdicos avaliam que o tratado pode ajudar a compensar os efeitos das tarifas impostas pelos Estados Unidos e reduzir a dependência em relação à China, ao ampliar o acesso a minerais e novos mercados. “Se a União Europeia quiser manter credibilidade na política comercial global, decisões precisam ser tomadas agora”, declarou Merz.
Itália condiciona apoio a garantias
A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, afirmou que o país pode apoiar o acordo, desde que sejam atendidas as preocupações dos agricultores italianos. “O governo italiano está pronto para assinar o acordo assim que forem dadas as respostas necessárias aos agricultores”, declarou.
Brasil mantém otimismo
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, informou ter conversado por telefone com Giorgia Meloni. Segundo Lula, a premiê disse não ser contrária ao tratado, mas relatou enfrentar um “constrangimento político” devido à pressão dos agricultores. “Se a gente tiver paciência de uma semana, de dez dias, de no máximo um mês, a Itália estará junto com o acordo”, afirmou Lula.
Protestos de agricultores em Bruxelas
Enquanto os governos se reuniam, milhares de agricultores foram a Bruxelas protestar contra a política agrícola da UE e, em especial, contra o acordo com o Mercosul. A mobilização reuniu centenas de tratores. Durante o protesto, houve queima de pneus e lançamento de objetos contra a polícia. Ao menos uma pessoa ficou ferida, segundo autoridades locais.
O que está em jogo no acordo
O processo de aprovação ocorre no Conselho Europeu, que exige maioria qualificada: apoio de ao menos 15 dos 27 países, representando 65% da população da UE. Embora o debate público esteja focado no agronegócio, o acordo é mais amplo, abrangendo indústria, serviços, investimentos, propriedade intelectual e insumos produtivos.
A expectativa era que, com a aprovação no Conselho, Ursula von der Leyen viajasse ao Brasil para ratificar o acordo, o que não deve mais ocorrer neste ano.