A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou nesta sexta-feira (19) que há um número suficiente de países-membros da União Europeia para aprovar o acordo comercial com o Mercosul. A declaração ocorre após o anúncio do adiamento da assinatura, que não mais acontecerá neste sábado (20), conforme fontes diplomáticas.

O plano original da Comissão Europeia era selar o pacto nesta semana, criando a maior zona de livre comércio do mundo. No entanto, a Itália alinhou-se à França para exigir um adiamento, buscando maior proteção para o setor agrícola europeu. Fontes indicam que a conclusão do acordo foi remarcada para janeiro.

O acordo, negociado há 25 anos, prevê a redução ou eliminação gradual de tarifas e estabelece regras comuns para comércio de bens industriais e agrícolas, investimentos e padrões regulatórios. Os debates se intensificaram durante a reunião do Conselho Europeu em Bruxelas.

Oposição e apoio dentro da UE

A França mantém-se como principal foco de resistência. O presidente Emmanuel Macron declarou que o país não apoiará o acordo sem novas salvaguardas para os agricultores, classificando as contas como “que não fecham”. Agricultores franceses veem o pacto como uma ameaça devido à concorrência com produtos latino-americanos mais baratos e com padrões ambientais distintos.

Em contrapartida, Alemanha e Espanha defendem a aprovação. O chanceler alemão, Friedrich Merz, e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, argumentam que o tratado pode ajudar a compensar tarifas dos EUA e reduzir a dependência da China, ampliando o acesso a minerais e novos mercados. “Se a União Europeia quiser manter credibilidade na política comercial global, decisões precisam ser tomadas agora”, afirmou Merz.

A posição da Itália permanece incerta. A primeira-ministra Giorgia Meloni afirmou que o país pode apoiar o acordo se as preocupações dos agricultores italianos forem atendidas, uma condição que, segundo ela, pode ser resolvida rapidamente pela Comissão Europeia.

Posicionamento do Brasil e protestos

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, manteve-se otimista. Após conversa telefônica com Meloni, Lula relatou que a premiê não é contrária ao tratado, mas enfrenta um “constrangimento político” devido à pressão dos agricultores. “Se a gente tiver paciência de uma semana, de dez dias, de no máximo um mês, a Itália estará junto com o acordo”, declarou.

Enquanto os líderes se reuniam, milhares de agricultores protestaram em Bruxelas contra a política agrícola da UE e, em especial, contra o acordo com o Mercosul. A mobilização, que incluiu centenas de tratores, registrou queima de pneus, arremesso de objetos contra a polícia e danos a um prédio. A polícia interveio para dispersar o ato.

Processo de aprovação e próximos passos

A aprovação final depende do Conselho Europeu, que exige uma maioria qualificada: o apoio de pelo menos 15 dos 27 países, representando 65% da população da UE. Este é considerado o principal risco político para o avanço do acordo.

Embora o debate público se concentre no agronegócio, o tratado é mais amplo, abrangendo indústria, serviços, investimentos e propriedade intelectual. A expectativa de que Ursula von der Leyen viajasse ao Brasil para ratificar o acordo no fim de semana foi descartada, sem nova data anunciada para 2025.